Arquitetura & Arte

Luz, câmera, ação: a importância da iluminação no cinema

Você já pensou sobre a importância da iluminação para o cinema? No dia 19 de Junho é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. Convidamos o diretor e documentarista Raphael Montagner para falar um pouco sobre sua paixão por essa arte e como a luz muda tudo nos cenários cinematográficos. Confira!

A luz e o cinema

Se você é um apaixonado por luz como eu, tenho certeza que gosta de cinema. As histórias, os lugares mágicos e os personagens apaixonantes não seriam o mesmo sem a iluminação. Sem uma fonte de luz, o cinema seria apenas uma tela escura. É ela que ajuda a ambientar e narrar as histórias – de forma natural, artificial, direta, difusa ou refletida: mas, principalmente, emocionante e transformadora.

Tudo começou em novembro de 1895, quando os irmãos Lumiére exibiam pela primeira vez o icônico registro “Um trem chegando à estação”. As poucas pessoas que estavam no local ficaram atônitas ao ver, reproduzida na parede de uma cave no Grand Café em Paris, a imagem em movimento de um trem a vapor enorme que se aproximava da câmera, até parar na estação.

A partir daí o cinema ganhou o título de “sétima arte” e se espalhou pelo mundo como uma forma de registrar lugares e indivíduos, mas também de eternizar a expressão cultural de um povo, mostrando ao mundo as histórias que nos tornam seres humanos. E assim como nossos antepassados dominaram o fogo, os fotógrafos e cineastas se dedicaram a uma tarefa em específico: dominar a luz. Eles perceberam que, ao trabalhar a luz natural e artificial, era possível transformar completamente o ambiente e dar ao espectador a sensação proposta no roteiro, sem que o ator precisasse dizer nada. E, ao profissional que se dedicou à luz no cinema, foi dado o nome de Diretor de Fotografia.

O diretor de fotografia

Cabe ao diretor de fotografia iluminar cada ponto da cena, entender quais os objetos ou personagens têm que ser destacados, e até em qual hora do dia aquele momento se passa. Se formos pensar no cinema como um projeto arquitetônico, o diretor de fotografia seria o luminotécnico da equipe. Na verdade, uma composição cênica é bem parecida com um projeto de arquitetura: há uma planta baixa detalhada do ambiente, na qual o fotógrafo escolhe os pontos em que se deve colocar a luz para dar o “mood” desejado. Veja no exemplo abaixo:

A diferença é que, em mapa de luz para o cinema, também é necessário levar em consideração a iluminação da pele dos personagens, para destacá-los – ou escondê-los – do resto do ambiente.  

O cinema brasileiro

Quando o cinema começou no nosso país, foi a realidade que virou tema dos seus primeiros filmes. Como no cinema documental se registra o real, há de se usar a luz que o ambiente fornece e até a própria luz do sol. E foi essa fonte inesgotável de luz que o diretor de fotografia César Charlone usou e abusou para iluminar as cenas externas do filme “Cidade de Deus” de 2002.

Como o filme se passa nas comunidades do RJ, o fotógrafo decidiu usar fontes únicas de luz, como janelas e portas abertas para cenas internas. Assim, mesmo que ele estivesse usando luz artificial para iluminar uma tomada, ela estaria imitando a luz do sol que entra em uma peça. Isso deixou o filme bem contrastado, quente e intenso, tudo a ver como o nosso astro rei!

Outro filme que se destaca pela luz é “Dois Coelhos”, de 2011. Com uma estética mais moderna, o diretor de fotografia Carlos Zalasik utilizou pontos de luz artificial que compõem o ambiente das cenas internas. Lâmpadas tubulares, luminárias e lustres fazem parte da tomada e ajudam a preencher espaços dando textura ao filme, assim como os designers e arquitetos usam a luz aí na sua casa.

A tecnologia LED no cinema

Outro ponto interessante é como a tecnologia das lâmpadas caseiras ajudou a luz do cinema a ficar cada vez mais potente e portátil. O advento do LED foi um avanço que permitiu aos profissionais da sétima arte abrirem um leque de opções inimaginável. Hoje em dia, com apenas um toque na tela do celular, o diretor de fotografia consegue mudar completamente o cenário. A temperatura das cores, a intensidade das fontes de luz, e os efeitos de uma tempestade ou de uma fogueira podem ser alterados. Um exemplo dessa tecnologia aplicada nas casas é o Brilia LightSense, que permite criar cenas de iluminação completas apenas com um aplicativo instalado no seu smartphone, que pode ser controlado de qualquer lugar.

Pode parecer repetitivo, mas eu digo novamente: 

Eu sou apaixonado pela luz e como ela pode transformar ambientes, despertar sensações e dar vida a sonhos. Nos meus registros, procuro sempre trazer a luz como protagonista; o sentimento de captar a luz certa, no momento certo e eternizar em foto ou vídeo é simplesmente incrível. É a arte na mais pura de suas versões e, se dizem que a vida imita a arte, eu digo que sem a luz nada faria sentido.

Raphael Montagner | @shotbyphilts
Diretor e Documentarista